A Morte, a Verdade e a Ressurreição (Parte I & II)


PARTE I

O 5° domingo da Quaresma, a liturgia nos apresenta o Evangelho segundo São João onde o tema central é a morte e a ressurreição de Lázaro, amigo de Jesus Cristo. As irmãs de Lázaro acreditavam na ressurreição no último dia, mas não que seu irmão pudesse ser ressuscitado naquele momento por Jesus. E por isso, Cristo diz a uma das irmãs de Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá”.  É nessa fala de Jesus que se encontra o tema para a nossa meditação. “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá”. Essa fala nos faz pensar sobre o nosso presente e sobre o nosso futuro, depois que morrermos. Ela pode possuir dois sentidos: morrer e aguardar a vida eterna como recompensa, para aqueles que creram; ou voltar a vida, mesmo não tendo morrido, como no caso do filho pródigo. Sendo assim, ao trazermos esses dois sentidos da fala de Jesus para a nossa vida, como pensamos o nosso futuro e como vivemos o nosso presente. 

Vale lembrar que a Quaresma é um tempo de conversão, desta forma, o Evangelho desse domingo nos lembra justamente isso. Estamos na busca de converter nosso coração Àquele que é a ressurreição e a vida? O que mais nos chama a atenção no evangelho? A morte, sendo de igual destino a todos os homens? Ou a vida que está escondida em Jesus Cristo? Com base na primeira leitura, começamos a responder da seguinte forma; nós homens somos destinados a glória, mas não a glória que almeja os homens que vivem segundo a carne, mas como afirma o apóstolo Paulo na segunda leitura. A condução que a primeira leitura nos mostra, remete um pouco a filosofia de Platão na questão de sair da caverna e chegar ao conhecimento, para recapitular, a primeira leitura afirma que, o povo será conduzido a terra de Israel.

Na filosofia platônica um indivíduo é conduzido do fundo d caverna para contemplar a luz da verdade, sendo essa verdade platônica o Sol, o Bem, para o povo de Deus Israel é uma verdade de condução, ou seja, sair das terras estrangeiras para a verdade da terra prometida, Israel. Se tratando da filosofia platônica a “promessa”, por assim dizer, seria a verdade luminosa do Sol, logo, essa filosofia leva o homem das trevas à luz, ainda que seja a luz da razão. No texto “A verdade que liberta” publicado aqui em nosso blog em 01/03/2020, já abordamos a filosofia platônica. Dessa forma, todo o homem pode chegar à verdade, para o povo hebreu sua verdade é tornar-se Israel, através da terra prometida, para os homens presos na caverna platônica a verdade é a luz radiosa do Sol. O mais interessante nessa análise filosófica é a condição de cativos tanto do povo hebreu, quanto aos homens da caverna platônica, é claro que em aspectos e construções diferente.

Como homens frágeis precisando de auxílio, certamente o maior auxílio que os homens podem ter é o de Deus. Imaginemo-nos em um momento de profunda agonia como estar presos ao fundo de uma caverna, sem luz, presos por correntes, sendo mantido em cárcere, certamente suplicaríamos por um socorro. Atrevemo-nos dizer que, os homens aprisionados na caverna pediram por ajuda, alguém que os pudessem libertar, já Lázaro, preso no mais íntimo da gruta, por si só não poderia clamar, logo, suas irmãs fazem o apelo porque ela conheciam a luz, podemos dizer que Marta e Maria são os indivíduos que saíram da escuridão e enxergaram a luz, que é Jesus Cristo, elas seriam aqueles indivíduos que saem da caverna platônica e vão socorrer seus companheiros, no entanto, o companheiro a ser salvo era seu próprio irmão.

Elas tomam a posição do salmista e clama a Deus que seu irmão veja novamente a luz, o Sol, que é o próprio jesus, Paulo afirma que Cristo sendo a justiça para aqueles que a Cristo pertence o Espírito santo está nele, os indivíduos que saem da caverna platônica encontram justiça e verdade, Lázaro encontra justiça e verdade ao sair do sepulcro, era justa sua ressurreição para que o nome de Deus fosse glorificado em Cristo Jesus, encontra a verdade porque encontra o Mestre.

PARTE II

As passagens do 5º domingo quaresmal, escondem um tesouro inteligível. A morte de Lázaro não fala somente da sua condição cativa pela morte terrena ou pela sua milagrosa ressurreição pelas mãos de Jesus, Lázaro abraçará uma nova vida nova através da verdade e da vida escondida em Cristo. A começar, perguntamos irmãos: por ventura estás doente? Estás com a fé abalada pela pandemia? Nós meros escritores, não podemos afirma quando tudo isso irá acabar, de nada sabemos os planos de Deus, mas o Senhor na sua infinita Sabedoria pode afirma na sua Sagrada Palavra “É preciso que estas coisas aconteçam, mas ainda não é o fim” (Mt. 24; 6). E que, de fato, nossa fé possa está assegurada também no evangelho de hoje, quando o Senhor nos diz: “Essa doença não é mortal, mas para glória de Deus, para que, por ela, seja glorificado o Filho de Deus” (Jo 11;4).

Para nós, que cremos no nome de Cristo Jesus não devemo-nos ter fé? Cristo já nos deu todas as graças necessárias para passar por outrora e por essas provações, Ele não teme o perigo, pois sabe e tem confiança nos planos e poder de Deus em sua vida, veio nos ensinar a ter confiança nos planos e nas ações de Deus para conosco. Quando seus discípulos o alertam do perigo em voltar a Judeia Ele responde: “Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha durante o dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo, mas se alguém caminha à noite, tropeça, porque a luz não está nele”. Se voltarmos um pouco e analisar novamente a filosofia platônica podemos afirma que a luz desse mundo é o Sol que vemos pelo sentido da visão, o homem platônico ao sair da caverna e ao contemplar o Sol “queima” sua visão de primeiro momento, justamente por sua visão acostumar-se com a condição do cárcere escuro, assim como o Sol é luz para os homens dessa caverna, Jesus é Sol, ou seja, a  Luz, é Verdade para as testemunhas que viram a ressurreição de Lázaro.

Amados irmãos, se tratando da pandemia, será mesmo que o Senhor está indiferente a nossa realidade, em relação a essa crise que passamos? Jesus comove-se a situação de seu amigo Lázaro, mas comove-se mais com os que choram sua morte, a diferença entre Jesus e o homem que liberta seus amigos na caverna platônica é, o homem da alegoria da caverna desce a grupa para libertar seus companheiros, Jesus apenas diz: “Lázaro, vem para fora”, os homens que se libertam da caverna platônica não possuem a verdade consigo, mas precisam conduzir seus companheiros pela mão para mostrar-lhes o Sol, as cores, as formas desse mundo, para que contemplando as belezas desse mundo sua almas possam contemplar a do mundo inteligível.

A verdade platônica, nos faz sair de uma condição de erro e enganos, onde as sombras da parede nos mostram uma realidade falsa e nada verossímil, porém Jesus, é o Sol, a Verdade, Jesus é a reta Verdade, a Verdade do Pai. Jesus conduzirá Lázaro a Verdade transmitida por Ele mesmo que sai da boca do Pai, a ressurreição de seu amigo nos mostra que, a vida está escondida em Cristo Jesus, Ele é o Sol sem ocaso, é reta Verdade. Santo Anselmo de Cantuária afirma: “Verdade então, pode ser definida como a retidão perceptível apenas pela mente (alma)”, Para este Santo a Verdade está muito mais ligada as operações do plano inteligível, é uma verdade extremamente inteligível o lugar que Jesus irá nos conduzir, ou seja, a vida eterna, e é essa a reta verdade da missão de Cristo Jesus.

As testemunhas que viram Lázaro ressurgir, viram com a mente, com a alma o que tinha ocorrido, esse fato foi preciso ter sido presenciado por muitos para que o nome de Deus fosse glorificado pela vinda de Seu Filho, assim, não poderiam mais duvidar que Ele era o Messias, o Enviado do Pai, o Filho do Deus vivo. Sendo assim, Jesus se torna para nós o amigo que nos mostra o Sol, a Verdade, sendo essa, Ele mesmo. Faz uma suplica ao Pai para que Lázaro saia do sepulcro, assim como até os dias atuais suplica por nós junto do Pai, sendo Ele mesmo essa suplica maior no Santo sacrifício. O “vem para fora” de Lázaro veio pela voz do Messias, o nosso “vem para fora” veio por meio do Santo sacrifício dado no alto do Calvário. Que nesse tempo final de quaresma possamos verdadeiramente viver e entender para aonde o Senhor quer nos conduzir, e que todos os nossos sentidos e intelecto, possam nos ajudar a cada dia aperfeiçoar o nosso caminho de saber crermos e converter-nos no evangelho.

PAZ E BEM!
Escrito pelos autores: Felipe Batista de Oliveira
         Bacharel em Filosofia  
&
Prof. Rodrigo Machado
Licenciatura em Filosofia

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